O Dia Mundial do Alzheimer e Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, lembrado neste domingo (21), marca a necessidade de informação da sociedade sobre a importância da prevenção, diagnóstico precoce e do cuidado ofertado, além de desafiar o estigma que cerca as patologias neurodegenerativas. Para celebrar a data, o Centro de Referência da Doença de Alzheimer e Parkinson (CDAP), vinculado à Secretaria Municipal de Saúde, estará aberto à população, na próxima terça-feira (23), das 9h às 12h, com uma equipe interdisciplinar para aplicação de testes cognitivos.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura, que afeta, majoritariamente, pessoas acima de 60 anos, impactando a memória, a linguagem e a percepção do mundo. A campanha “Setembro Lilás” chama a atenção para os sinais de alerta da demência, incentivando as pessoas a buscarem informações, aconselhamento e apoio.
A médica geriatra Déborah Casarsa pontuou que os primeiros sinais da doença geralmente incluem mudanças na memória, atenção e planejamento (funções executivas), insegurança, perda de interesse, além da capacidade de organização e armazenamento de informações. “O esquecimento que interfere na rotina diária, como não lembrar onde guardou objetos, repetir informações ou ter dificuldades com recados, não é normal e deve ser investigado. Além da perda de memória recente, a pessoa pode apresentar desatenção, insegurança para realizar atividades rotineiras e perda de interesse em hobbies. É comum que a pessoa identifique objetos, mas não consegue nomeá-los, tentando dar explicações ou inventando histórias (confabulação) para disfarçar o esquecimento”, exemplificou.
Casarsa destacou, ainda, que o maior fator de risco para o desenvolvimento de síndromes demenciais é a idade. A especialista descreve o impacto significativo do esquecimento na vida de idosos e suas famílias, destacando a perda de memória e a dificuldade de interação na rotina diária. Para atenuar esses desafios, é crucial a formação de uma rede de apoio familiar.
“Para os familiares, a situação é muito triste e pesada, exigindo a criação de uma grande rede de apoio para dividir o cuidado e evitar sobrecarga, sempre com muita paciência e amor. A doença se manifesta por repetições constantes, perseverança em ações, alterações visuoespaciais (como se perder na própria casa) e pedidos para voltar para casa mesmo já estando nela, sem que o idoso compreenda o que está acontecendo. Por isso, a família também necessita de tratamento e apoio. Acontece que, hoje já existem estratégias e ferramentas disponíveis, por meio de profissionais médicos e equipes multiprofissionais, que são capazes de suavizar bastante o diagnóstico e seus efeitos”, salientou.
“A nova era do diagnóstico de Alzheimer tem muitos recursos: começa com anamnese e testes cognitivos, segue com biomarcadores de amilóide e tau no líquido cefalorraquidiano (LCR), exames como PET-FDG18 e ressonância magnética de alto campo, permitindo um diagnóstico precoce”, complementou.
ALZHEIMER E SEUS DESAFIOS — Deborah enfatiza que o principal desafio no cuidado de idosos com demência é a desinformação. A geriatra realça a importância de a família entender as fases da doença de Alzheimer, especialmente em seu estágio final, quando o paciente pode apresentar mutismo e se comunicar por meio de gemidos. “A doença afeta a acetilcolina cerebral, causando uma dependência crescente e exigindo adaptações no ambiente, como um quarto acessível e barras de apoio no banheiro para evitar quedas. Além disso, é fundamental cuidar da alimentação e da saúde clínica do idoso, incluindo a vacinação, pois esses aspectos influenciam diretamente seu bem-estar neurológico”, pontuou.
A médica reforça que o Alzheimer, em grande parte, está mais ligado a hábitos de vida inadequados do que a fatores genéticos, e seu tratamento vai além da medicação, incluindo a estimulação cognitiva do cérebro. “A medicina de estilo de vida é fundamental para um envelhecimento saudável, focando no manejo do estresse, alimentação saudável e atividade física regular. É crucial cuidar da visão e audição dos idosos, pois a perda desses sentidos pode levar ao isolamento, depressão e demência. Doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto devem ser controladas, dado que causam alterações vasculares e são as principais causas de morte. Também é de suma importância a estimulação cognitiva com exercícios e ferramentas específicas para o cérebro de idosos, complementando o tratamento medicamentoso”.
ATENDIMENTO HUMANIZADO — O Centro de Referência da Doença de Alzheimer e Parkinson funciona na Rua Primeiro de Maio, nº 43, Centro. O atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h e os pacientes devem ser encaminhados através de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). “As políticas públicas para demência começaram a ser implementadas há apenas dois anos. Mas, Campos foi pioneiro em criar o primeiro centro de Alzheimer do Estado, sendo o segundo do país, que atende mais de 6.700 pessoas, com uma demanda mensal de 300 novos diagnósticos”, finalizou.