A consolidação de práticas emancipatórias e o fortalecimento das raízes quilombolas marcaram forte presença no Curso de Aperfeiçoamento em Educação Escolar Quilombola, encerrado no dia 10, na Escola Municipal Maria Antônia Pessanha Trindade. Em um encontro marcado pela emoção e pela rica troca de saberes, educadores, lideranças comunitárias e parceiros acadêmicos celebraram seis meses de formação colaborativa promovida pela Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct), reforçando o compromisso com o diálogo antirracista e a valorização do patrimônio cultural quilombola.
Ao longo da cerimônia de encerramento, que contou com a participação da diretora Regional de Educação, Rita Abreu, cinco grupos de participantes compartilharam os resultados de suas investigações sobre a comunidade quilombola da Lagoa Fea, abordando temas que vão da história do território à salvaguarda de saberes tradicionais. Dois eixos norteadores — preservação da memória cultural e cartografia quilombola — orientaram todo o percurso formativo.
O primeiro grupo ofereceu um panorama histórico do Quilombo Lagoa Fea, detalhando políticas públicas, conquistas fundiárias e iniciativas de preservação ambiental. Monitorados por um professor de Geografia, mapearam a extensão do território, criando um registro cartográfico que poderá auxiliar futuras demandas comunitárias.
Em seguida, o segundo grupo explorou o tema “Da terra ao pote”, resgatando métodos ancestrais de conservação de alimentos. Apresentaram receitas tradicionais de doce de cajá e de laranja-da-terra, além de pimentas preservadas, demonstrando a riqueza dos conhecimentos locais na manutenção da segurança alimentar.
O terceiro grupo produziu um documentário que interliga verso, poema, fado e jongo, evidenciando a força expressiva da cultura quilombola. A exibição foi acompanhada por um depoimento emocionado de uma das participantes, que destacou o poder dos ritmos para fortalecer a identidade coletiva.
No quarto trabalho, “Pelas trilhas da Lagoa Fea”, os alunos promoveram uma visita guiada ao pomar comunitário, permitindo a experimentação de frutas nativas. A atividade reforçou a importância da agricultura familiar e conscientização agroecológica, culminando na oferta de amostras frescas aos presentes.
O quinto grupo refletiu sobre “Cultura, resistência e pertencimento”, defendendo a continuidade das memórias através de brincadeiras e danças tradicionais. Argumentaram que zelar por essas manifestações é garantir que as próximas gerações vivenciem e preservem seus laços históricos.
Para encerrar, alunas do curso realizaram uma apresentação de farinhada e jongo — danças típicas que homenageiam rituais de preparo de alimentos e celebram a ancestralidade africana. A farinhada remete ao processo coletivo de produção da farinha de mandioca, enquanto o jongo é expressão musical e oral criada pelos quilombolas para narrar vivências e fortalecer laços comunitários.
Clareth Reis, coordenadora do curso e professora da Uenf, ressaltou que “hoje é um dia de celebração, de apresentar os frutos que foram colhidos durante esses módulos de curso”, enfatizando a mobilização da escola e da comunidade em torno das Diretrizes Nacionais Curriculares para a Educação Escolar Quilombola. Marcelo Cavalcante, articulador das Políticas de Educação do Campo na Seduct, acrescentou que a formação “traz não só os saberes populares, mas a projeção dos quilombos no campo da política pública para pensar a educação de qualidade”.
Segundo Diego Santos, articulador da política de Educação para a Diversidade, “é uma forma de construir uma política pública a partir desse diálogo com a sociedade civil e com aqueles territórios”. Para Gineia Miguel da Silva, aluna e moradora da Lagoa Fea, o curso foi fundamental “para fortalecer a cultura quilombola para as novas gerações e ampliar oportunidades de estudo”.
Iniciado em 12 de fevereiro com uma aula inaugural no auditório da Prefeitura de Campos, o percurso de 180 horas se estendeu até julho, tendo início formal em março com módulos dedicados à cartografia e ao resgate da memória cultural. Além das atividades presenciais, está prevista a produção de material impresso e audiovisual para disseminar os conhecimentos compartilhados.
Ao concretizar pesquisas e vivências práticas, a Seduct reafirma seu propósito de promover uma educação emancipatória e antirracista. A conclusão do curso não apenas celebra resultados, mas aponta para novos desdobramentos, potencializando a participação quilombola nas decisões educativas e o fortalecimento de políticas públicas inclusivas.