Notícia no detalhe
Letra de música é poesia? Palestra reúne Mauro Santa Cecília e Fernando Anitelli
A Arena Jovem, da 8ª Bienal do Livro de Campos, reuniu na noite desta terça-feira (20) o poeta e romancista Mauro Santa Cecília e o ator e músico, Fernando Anitelli. “Letra de música é poesia?” foi o tema do debate, mediado pela presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Patrícia Cordeiro. E esta foi justamente a pergunta inicial feita aos autores.
Anitelli, idealizador do Teatro Mágico, projeto que mistura arte circense, cultura e poesia, disse que a letra de uma música pode ou não ser poesia, conforme sensibilizar, tocar, chocar ou não enquanto apenas letra. ”Poesia é inquietação, provocação. Letra rasa, sem sentido, que passa despercebida e não toca a pessoa não é o tipo de letra que eu gosto e, só no papel, sem a música, não é poesia. A poesia pode ser narrativa, uma crítica, mas essencialmente tem de estar ao nosso alcance, acessível, do nosso cotidiano”, disse o artista, que também falou da Bienal:
- Estou fazendo 40 anos de idade hoje e não abri mão de participar desta bienal, espaço ideal para juntar cabeças que se questionam. Nesse universo, música e poesia muito se misturam - destacou Anitelli.
Santa Cecília é autor da letra da música “Por você”, sucesso de Frejat. Ele citou letras de músicas que são poesias e declamou “Tropeçavas nos astros desastrada / Quase não tínhamos livros em casa / E a cidade não tinha livraria / Mas os livros que em nossa vida entraram / São como a radiação de um corpo negro / Apontando pra a expansão do Universo / Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso / (E, sem dúvida, sobretudo o verso) / É o que pode lançar mundos no mundo”, da música Livros, de Caetano Veloso. Ele exemplificou com a frase “Ah, esse coqueiro que dá coco”, de Aquarela brasileira, como a harmonia, o arranjo, em versos sem poesia, podem tornar uma música bela.
“Letra de música não é para ficar no papel, mas o poema não precisa de música. “Por você” é um poema, que escrevi quando estava apaixonado pela minha vizinha e a coisa não ia bem. Então, escrevi um poema com as loucuras que seria capaz de fazer para conquista-la. Percebi uma certa sonoridade no poema e mandei para Frejat. Uns seis meses depois, ele me ligou de madrugada. O grupo estava gravando um disco e ele colocou a música, com o meu poema, para eu ouvir”, contou o poeta, que declamou o poema que teve alguns versos subtraídas da música cantada por Frejat.
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